Mesmo sabendo que o envelhecimento é o único meio de viver
por muitos anos, os idosos nem sempre se conformam com as limitações físicas
–e, às vezes, psicológicas – que a passagem do tempo impõe.
Para os filhos, o processo também não é dos mais fáceis, já
que eles se deparam com a necessidade de ter cuidados com aqueles que dedicaram
a vida para criá-los.
Para a assistente social Maria Angélica dos Santos Sanchez,
coordenadora do curso de gestão em saúde do idoso da PUC-RJ (Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro), o filho transita mais facilmente por
essa nova fase quando se recusa a acreditar numa sentença já muito difundida, a
de que ao envelhecermos, viramos crianças novamente.
Pensar dessa maneira, segundo ela, leva à infantilização do
idoso. “Jamais seremos pais de nossos pais. Se estivermos com 50 anos, cuidando
de alguém com 80, precisamos nos lembrar que essa pessoa sempre terá 30 anos a
mais de experiência”, declara.
Ela reforça que o respeito deve
continuar sendo a base da relação entre pais e filhos, não importa a
idade. “Depender de ajuda para atividades diárias, por conta de alguma
patologia, não tira da pessoa toda a história de vida construída. Mesmo nos
casos em que a cognição está comprometida, é preciso respeitar, na medida do
possível, a vontade do outro”, diz Maria Angélica.
Isso significa que qualquer decisão a ser tomada, que envolva
mudanças na vida do idoso, precisa ser combinada com ele. “A comunicação é
muito importante. O ideal é conversar para entrar num consenso e não tolher as
opiniões do outro. É preciso explicar os prós e contras de cada alteração na
rotina”, explica o geriatra Alexandre Busse, do Hospital Sírio-Libanês, em São
Paulo.
Em casos em que o idoso não está mais apto a decidir, por
conta da perda de lucidez parcial ou total, os filhos podem tomar a dianteira,
mas sem deixar de respeitar a história de vida, a personalidade e os hábitos
daquela pessoa.
Como regra geral, é preciso intervir apenas quando a rotina
do idoso desanda. “Se o indivíduo mantém suas atividades de vida diária
preservadas, sem prejuízos para o seu cotidiano, podemos considerá-lo saudável.
O envelhecimento patológico apresenta,
necessariamente, uma desordem cognitiva”, diz a gerontóloga Sandra Rabello,
coordenadora de curso de cuidadores de idosos da UERJ (Universidade do Estado
do Rio de Janeiro).
Para perceber se há ou não há um problema, é preciso observar
as tarefas realizadas atualmente pelo idoso e ver se a forma de agir
mudou muito. “Algumas perguntas a serem feitas são: a casa continua com a
arrumação que costumava ter? Tem comida antiga na geladeira ou falta comida no
armário? As caixas de medicação estão com os comprimidos usados na dose
adequada? O autocuidado parece adequado? As panelas estão com marcas de queimado?
Os armários ou gavetas parecem muito desorganizados?”, exemplifica Maria
Angélica.
Vale também reparar se o familiar deixou de fazer alguma
atividade por vontade própria ou por dificuldade motora ou cognitiva.
Quando as alterações são confirmadas, o melhor a fazer é
levar o idoso a um médico geriatra, que fará testes para analisar as reais
capacidades da pessoa, além de dar as recomendações específicas.
No geral, o ambiente em que o idoso mora também deve ser
pensado para não oferecer perigo. É recomendável evitar tapetes, fios
espalhados e pisos escorregadios. Também vale adaptar móveis que tenham quinas
ou sejam altos demais e que dependam do uso de bancos ou escadas para serem
alcançados. O excesso de mobília e a iluminação fraca precisam ser, igualmente,
repensados.
Os idosos que moram sozinhos precisam de acompanhamento.
Porém, segundo Sandra Rabello, é preciso respeitar a independência e a
individualidade deles, garantindo, ao mesmo tempo, proteção e assistência.
Uma medida importante é manter, em casa, cadernos de
telefones atualizados, com nomes dos principais médicos e outros profissionais
que atendem o idoso, para casos de emergência, além dos endereços e telefones
dos filhos.
“Também recomendo deixar em local de fácil acesso o cartão do
plano de saúde e os documentos do idoso”, diz a geróntologa. Outro cuidado é
manter contato frequente com pessoas que estão próximas do idoso, como vizinhos
ou o zelador do prédio. “Hoje em dia, existem empresas que instalam um aparelho
em casa, com um botão de emergência que pode ser acionado rapidamente, em caso
de necessidade. É uma medida reconfortante para os filhos e que dá segurança ao
idoso que mora sozinho”, diz o geriatra.
O fato de o idoso já não conseguir mais desenvolver como
antes algumas atividades não deve ser suficiente para convencer os filhos de
que ele se tornou incapaz de assumir qualquer tipo de tarefa cotidiana. “É
errado os filhos quererem superproteger os pais. Algumas capacidades realmente
diminuem pelo desuso. Mas é preciso deixar que o idoso continue fazendo o que
ele sabe”, diz Busse.
A dica é oferecer ajuda, mas não agir por ele, para preservar
a autonomia do idoso. Assim, se ele já não consegue mais ir ao mercado, o filho
pode se oferecer para fazer as compras, desde que o pai fique responsável pela
lista. Da mesma forma, a dificuldade para se vestir não impede que o idoso
escolha o que quer usar.
A medicação diária é um ponto que merece atenção. Para os
pais que esquecem de tomar os remédios esporadicamente, a estratégia é colocar
uma tabela com os horários de ingestão em um local visível, como a geladeira.
Ou, ainda, separar os medicamentos em caixinhas para cada dia da semana e ligar
para o familiar, lembrando-o de tomar.
“Se essas iniciativas não funcionarem, será preciso entender
a raiz do problema. Muitos idosos relutam em ingerir determinados comprimidos
por não estarem conseguindo engolir. Nesse caso, é necessária uma avaliação
profissional”, diz a assistente social. Visitas e telefonemas periódicos são
fundamentais, tanto para acompanhar o estado de saúde da pessoa quanto para
preservar os laços afetivos.
Cuidados profissionais
Quando o idoso chega ao ponto de depender de outra pessoa
para todas as atividades básicas, como se locomover, tomar banho e se
alimentar, ou, então, diante de doenças degenerativas, como Alzheimer e Parkinson, muitas famílias
consideram contratar um cuidador profissional.
A medida ajuda a aliviar a carga sobre a família. E, para
Alexandre Busse, essa decisão é infinitamente melhor do que revezar os cuidados
entre os filhos, quando a opção é levá-lo de uma casa para outra, de tempos em
tempos.
“Isso provoca muitas
alterações de comportamento, como agitação e dificuldade para dormir. O ideal é
que o cuidador seja trocado, mas o ambiente permaneça o mesmo”, diz. O cuidador
profissional precisa ter formação no trato com idosos, o ideal é que tenha
feito cursos em instituições especializadas. “Deve-se exigir qualificação,
pontualidade, responsabilidade, ética, discrição e sensibilidade com o idoso”,
diz Sandra Rabello.
Caso a família já tenha esgotado todas as possibilidades de
manutenção da pessoa idosa no ambiente familiar, há, ainda, a opção de
institucionalizar o idoso. Nesse caso, o melhor é buscar uma instituição
respeitada e com profissionais qualificados na área.
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